Vamos tentar agora analisar alguns fenômenos elétricos importando ideias que desenvolvemos para os campos magnéticos, mas antes seria bom entender o que é eletricidade.
Acredito que todos lendo esse texto tiveram em algum momento contato com “eletricidade”, seja lá o que isso for. Termos como “energia”, “eletricidade” e “força” são usados como sinônimos no cotidiano para descrever aparelhos que, de alguma forma estão ligados a uma tomada. Também temos uma noção intuitiva de que fenômenos naturais, como raios tem alguma relação com a eletricidade.
Proponho que façamos uma tentativa de organizar algumas observações do cotidiano por meio de comparações com alguns desenvolvimentos históricos da eletricidade, em uma tentativa de “reconstruir” com comparações anacrônicas a forma geral com a qual a nossa sociedade foi compreendendo a eletricidade.
É importante notar que não vamos falar da forma com a qual o público geral compreendia eletricidade, mas sim de como grupos específicos que estudavam intensivamente os fenômenos hoje associados à eletricidade (o equivalente ao que chamamos hoje de “comunidades científicas”) foram desenvolvendo sua compreensão sobre eletricidade. As vezes esquecemos que, por mais que algumas ideias estejam bem estabelecidas entre pesquisadores, elas podem demorar a cair no “conhecimento popular” bem estabelecido.
Outro ponto importante de se ter em mente ao tentar esse exercício de agressão contra a história é que muitas vezes temos a impressão de que os desenvolvimentos da ciência se dão de forma linear e sempre “progressiva”, por meio de ideias geniais de grandes pesquisadores. Isso não é, e, de fato, passa longe de ser, como a coisa se desenrola. A ciência funciona como uma construção coletiva, onde fatores sociais, econômicos, pessoais, etc… motivam grupos de pessoas a procurar formas diferentes de entender, modelar e prever fenômenos da natureza. Apesar disso, vamos muitas vezes focar em partes dos acontecimentos que, em retrospectiva, contribuiram para o estabelecimento da nossa compreensão atual.
Imaginando que não sabemos absolutamente nada sobre eletricidade, podemos nos perguntar qual seria a primeira forma de verificar a existência de tal coisa. Afinal de contas, se você não entende eletricidade, eu colocar um multímetro comercial na tomada e proclamar, baseado nos números que o visor mostra, que “uma corrente foi medida! A teoria da eletricidade condiz com os resultados experimentais!” não difere muito de eu conectar uma banana descascada a alguns fios e afirmar a mesma coisa, baseado no fato de que ela foi escurecendo com o tempo. Mesmo que eu afirme que exista uma relação, você não teria mais motivo para acreditar mais em um experimento do que no outro.

Muito bem, pessoa cética que lê esse texto. Entao vamos começar dos primeiros experimentos que apresentam resultados que você entenda.
Antes que alguém ouse ter a ideia, eu alerto: não coloque a mão na tomada sem supervisão. Isso seria imprudente. Se você insiste em fazer algo idiota, faça algo menos letal, como encostar levemente uma bateria de 12V na língua. Ainda não é algo que eu recomende, pois, no caso de algum mal funcionamento da bateria, o conteúdo tóxico de seu interior pode acabar sendo ingerido, mas, supondo que tudo ocorra idealmente, você vai sentir um leve choque (em oposição ao choque muito mais violento da tomada). Aqui temos uma primeira medição: sentimos algo na língua (sentimos hipoteticamente, não faça isso em casa).

Usar uma bateria, feita para gerar eletricidade, para mostrar algo sobre eletricidade parece um pouco redundante. Então vamos usar outros materiais. No caso, vamos tentar o experimento clássico de esfregar o cabelo em uma bexiga. Depois de algum tempo esfregando, ao afastar a bexiga do cabelo você pode notar que o cabelo é atraído para a bexiga. Essa é uma evidêncai de que alguma força está agindo sobre o cabelo. Outra ideia seria, em um dia seco, esfregar as meias no carpete rapidamente por algum tempo e encostar o dedo em outra pessoa. Se tudo der certo você sentirá um leve choque.
Se nenhuma das ideias funcionar, podemos apelar para esfregar o balão no cabelo e colocar ele próximo a uma latinha de alumínio vazia. A lata deve ser repelida levemente.
Todos esses fenômenos são parecidos com alguns dos primeiros relatos de fenômenos elétricos que temos registro: